Morreu o último caracol da Polinésia
Morreu o último caracol da Polinésia. Havia um caracol da Polinésia, um caracol de árvore, e nenhum outro.
Era o último. E morreu. Morreu de quê? Ninguém sabe me dizer. O jornal não acha importante revelar a causa-mortis de um caracol da Polinésia. Noticia apenas que com ele extinguiu-se a sua espécie. Ninguém nunca mais verá em lugar algum, nem mesmo na Polinésia, um polinesiano caracol.
Pois eu ouso dizer que sei o que foi que o matou. Ele morreu de ser o último. Morreu de sua extrema solidão. Sua vida não era acelerada, nada capaz de causar-lhe stress, mas era dinâmica; ao longo de um ano, graças a esforços e determinação e impulso fornecido pela própria natureza, o molusco lograva deslocar-se cerca de 70 centímetros. Mais, teria sido uma temeridade. Assim mesmo, de que adiantavam esses 70 centímetros suados, batalhados dia a dia, sem ninguém para medi-Ios, sem nenhum parente amigo companheiro que lhe dissesse, você hoje bateu sua marca? Sem ninguém para esperá-Io na chegada?
O último caracol da Polinésia olhava ao redor e não via ninguém. Ali estava, freqüentemente, seu tratador, o caracol vivia no Zoológico de Londres mas o tratador não era ninguém, o tratador era qualquer coisa menos importante que o tronco sobre o qual o caracol se deslocava, o tratador era de outra espécie. E via, sim, de vez em quando via os pesquisadores que o examinavam, olho agigantado pela lente. Mas os pesquisadores não tinham uma concha rosada cobrindo-lhe as costas. Os pesquisadores também não eram ninguém.
Então o caracol da Polinésia olhava o mundo, e o mundo estava vazio. E como pode alguém viver, como pode alguém querer viver num mundo esvaziado de seus semelhantes?
Seguramente ele era muito bem tratado no Zoológico, comida não havia de lhe faltar - o que come, comia, um caracol da Polinésia? - e de dia e de noite estava livre de predadores. Seus antepassados, talvez ele mesmo na infância, tinham tido que lutar pela sobrevivência. E a vida era dura.
Mas lutavam em companhia. Quando um deles era esmagado - quantos caracóis são esmagados mesmo na Polinésia! outros lamentavam sua sorte. Quando um deles se atrasava em sua marcha - é tão fácil a um caracol se atrasar - outros esperavam por ele. Havia sempre velhos caracóis experientes aos quais pedir conselhos, novos caracóis ignaros aos quais ensinar os segredos da vida. Havia sempre companheiros. E o mundo, povoado de companheiros, era lindo.
Mas os outros, os outros todos foram acabando aos poucos, vítimas do único predador disposto a transformar suas conchas em objetos turísticos. E o último caracol da Polinésia, cansado de ser o último, cansado de ser tão só, deixou-se pisar pela Morte que passava apressada, certo talvez de poder renascer em algum mundo lindo, em que milhares de ovos de caracol preparam-se para eclodir.
Era o último. E morreu. Morreu de quê? Ninguém sabe me dizer. O jornal não acha importante revelar a causa-mortis de um caracol da Polinésia. Noticia apenas que com ele extinguiu-se a sua espécie. Ninguém nunca mais verá em lugar algum, nem mesmo na Polinésia, um polinesiano caracol.
Pois eu ouso dizer que sei o que foi que o matou. Ele morreu de ser o último. Morreu de sua extrema solidão. Sua vida não era acelerada, nada capaz de causar-lhe stress, mas era dinâmica; ao longo de um ano, graças a esforços e determinação e impulso fornecido pela própria natureza, o molusco lograva deslocar-se cerca de 70 centímetros. Mais, teria sido uma temeridade. Assim mesmo, de que adiantavam esses 70 centímetros suados, batalhados dia a dia, sem ninguém para medi-Ios, sem nenhum parente amigo companheiro que lhe dissesse, você hoje bateu sua marca? Sem ninguém para esperá-Io na chegada?
O último caracol da Polinésia olhava ao redor e não via ninguém. Ali estava, freqüentemente, seu tratador, o caracol vivia no Zoológico de Londres mas o tratador não era ninguém, o tratador era qualquer coisa menos importante que o tronco sobre o qual o caracol se deslocava, o tratador era de outra espécie. E via, sim, de vez em quando via os pesquisadores que o examinavam, olho agigantado pela lente. Mas os pesquisadores não tinham uma concha rosada cobrindo-lhe as costas. Os pesquisadores também não eram ninguém.
Então o caracol da Polinésia olhava o mundo, e o mundo estava vazio. E como pode alguém viver, como pode alguém querer viver num mundo esvaziado de seus semelhantes?
Seguramente ele era muito bem tratado no Zoológico, comida não havia de lhe faltar - o que come, comia, um caracol da Polinésia? - e de dia e de noite estava livre de predadores. Seus antepassados, talvez ele mesmo na infância, tinham tido que lutar pela sobrevivência. E a vida era dura.
Mas lutavam em companhia. Quando um deles era esmagado - quantos caracóis são esmagados mesmo na Polinésia! outros lamentavam sua sorte. Quando um deles se atrasava em sua marcha - é tão fácil a um caracol se atrasar - outros esperavam por ele. Havia sempre velhos caracóis experientes aos quais pedir conselhos, novos caracóis ignaros aos quais ensinar os segredos da vida. Havia sempre companheiros. E o mundo, povoado de companheiros, era lindo.
Mas os outros, os outros todos foram acabando aos poucos, vítimas do único predador disposto a transformar suas conchas em objetos turísticos. E o último caracol da Polinésia, cansado de ser o último, cansado de ser tão só, deixou-se pisar pela Morte que passava apressada, certo talvez de poder renascer em algum mundo lindo, em que milhares de ovos de caracol preparam-se para eclodir.
Comentários
Alguém sabe